A sustentabilidade deixou de ser apenas uma pauta de responsabilidade social e passou a integrar o centro das estratégias empresariais. O “Panorama Sustentabilidade 2025”, pesquisa conduzida pela Humanizadas, traz dados robustos sobre como empresas brasileiras estão amadurecendo suas práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) e, com isso, colhendo resultados concretos em reputação, mercado e rentabilidade.
A sustentabilidade virou diferencial competitivo
O Panorama Sustentabilidade 2025, conduzido pela Humanizadas, ouviu líderes de empresas de todos os portes e setores e revela uma tendência clara: a sustentabilidade deixou de ser retórica e passou a influenciar decisões estratégicas e resultados concretos.
De acordo com o levantamento, 76% das empresas já adotam práticas sustentáveis com algum grau de práticas sustentáveis. Destas, 24% são consideradas inovadoras, atuando em estágios avançados – com integração entre sustentabilidade e estratégia de negócio. É um salto relevante em relação a 2024, refletindo o amadurecimento do mercado frente à urgência climática e às pressões de stakeholders.
Vale ressaltar também que o número de respondentes que afirmaram que a organização faz benchmark e avaliações externas aumentou de 27% em 2024 para 48% em 2025.
O principal diferencial, portanto, está na governança. Empresas com responsabilidade sustentável estruturam metas, integram indicadores de ESG à gestão financeira e se comprometem com a transparência de dados.
Maturidade e percepção de impacto
A pesquisa revela, sobretudo, a correlação entre maturidade em sustentabilidade e percepção de benefícios. Os dados são contundentes:

Fonte: Panorama Sustentabilidade 2025.
Estudos recentes indicam que muitas empresas brasileiras demonstram a necessidade de um equilíbrio entre os três pilares do ESG para atingir uma maturidade plena em sustentabilidade.
Nesse sentido, ferramentas como o Índice de Maturidade de Asseguração em ESG, desenvolvido pela KPMG, auxiliam as organizações a identificar lacunas e oportunidades de melhoria em suas práticas sustentáveis.
Além disso, iniciativas governamentais, como a implementação do índice iESGo pelo Tribunal de Contas da União, reforçam a importância da avaliação contínua da maturidade em sustentabilidade, promovendo uma cultura organizacional mais eficiente e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Conectar sustentabilidade à performance financeira: o verdadeiro desafio
Apesar da integração crescente à estratégia, menos da metade conecta sustentabilidade à gestão financeira, seja por meio de dados, metas ou indicadores.
Essa lacuna é apontada como o principal desafio por mais da metade dos respondentes. Essa desconexão reduz o potencial das práticas sustentáveis em gerar valor tangível.
A pesquisa propõe uma matriz de priorização que destaca as ações com maior impacto e menor esforço de implementação. São elas:
- Políticas de ética e transparência
- Uso de dados financeiros sustentáveis
- Projetos sociais integrados ao negócio
- Benchmarking e certificações externas

Sustentabilidade e gestão financeira. Fonte: Pexels.
Essas iniciativas não exigem grandes investimentos estruturais, mas já trazem ganhos reputacionais, alinhamento com stakeholders e maior preparo para captação de recursos e auditorias ESG.
Boas práticas em governança ESG
Se por um lado privacidade de dados e ética corporativa estão bem estabelecidos, por outro práticas modernas de governança sustentável ainda são exceção.
- Só 41% publicam relatórios de sustentabilidade anualmente
- Apenas 33% atualizam sua matriz de materialidade com frequência
- Menos de 20% já adotam frameworks como IFRS S1/S2
- 13% precificam carbono ou geram créditos de compensação
Esses números indicam a falta de padronização, transparência e consistência das empresas de mensurar, comparar e comunicar seu progresso sustentável com credibilidade.
Desta forma, é imprescindível que as organizações sigam boas práticas de governança. Elas envolvem a incorporação efetiva de critérios ESG na tomada de decisão estratégica, com conselhos administrativos capacitados e engajados na agenda socioambiental. Um exemplo relevante é a criação de comitês de sustentabilidade, prática cada vez mais comum entre empresas líderes globais.
O relatório PwC’s Sustainability Reporting Guide oferece uma visão abrangente sobre os requisitos de relatórios de sustentabilidade sob os principais frameworks globais, incluindo as Normas Europeias de Relato de Sustentabilidade (ESRS), as Normas de Divulgação de Sustentabilidade IFRS e as regras de divulgação climática da SEC.
O documento fornece insights, orientações interpretativas e exemplos ilustrativos sobre práticas emergentes em relatórios de sustentabilidade, material essencial para empresas que desejam fortalecer a governança na agenda ESG.
Além disso, a inclusão de stakeholders no processo de definição de prioridades e materialidade fortalece a legitimidade e a transparência das ações, promovendo uma governança mais democrática e resiliente.
O escasso apoio do governo brasileiro
83% dos participantes consideram a atuação do governo brasileiro como insuficiente para impulsionar a sustentabilidade. Atualmente, o que o mercado demanda é:
- Incentivos fiscais e linhas de crédito verdes;
- Metas claras, com fiscalização e segurança jurídica;
- Investimento em infraestrutura, pesquisa e inovação sustentável;
- Precificação de carbono e fomento à economia circular.
Apesar de iniciativas como as linhas de financiamento sustentáveis do BNDES, que oferecem crédito e debêntures para projetos ambientais e sociais, e a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) pela Lei nº 15.042/2024, que estabelece um mercado regulado de carbono no país , ainda há desafios significativos.
A falta de integração entre políticas locais, estaduais e nacionais, bem como a ausência de sistemas robustos para monitorar e fiscalizar as práticas corporativas, comprometem a eficácia das regulamentações ESG.
Mesmo diante dessas limitações, o setor privado tem liderado o movimento ESG no Brasil e demonstra que a transformação é puxada por cadeias globais de valor, investidores e consumidores — não mais por regulação. As empresas estão cada vez mais conscientes de seu papel na promoção da sustentabilidade e na construção de uma economia de baixo carbono
Sustentabilidade como critério de sucesso
As empresas mais avançadas já enxergam sustentabilidade como eixo estruturante para inovação, diferenciação e crescimento. As cinco principais tendências mapeadas são:
- Integração entre sustentabilidade e performance financeira – 75%;
- Cultura organizacional voltada à sustentabilidade -62%;
- Métricas mais confiáveis e padronizadas – 52%;
- Investimento em tecnologia e IA aplicadas à ESG – 51%;
- Descarbonização e energia limpa como prioridade 51%.
O Panorama 2025 deixa claro: o desafio não é mais começar — é evoluir. Esse cenário reforça a urgência de tratar a sustentabilidade não apenas como uma agenda paralela, mas como um vetor estratégico de geração de valor.
Ao conectar métricas socioambientais a indicadores financeiros, as empresas conseguem identificar riscos, mensurar oportunidades e integrar a sustentabilidade à tomada de decisão.
Ferramentas como precificação interna de carbono, análises de custo total de propriedade (TCO) e integração ao planejamento orçamentário são caminhos práticos para essa conexão. Quando bem aplicadas, essas abordagens fortalecem a narrativa ESG com dados consistentes e ajudam a transformar compromissos em vantagens competitivas reais.
Empresas que fizerem isso estarão melhor posicionadas para atrair investimentos, acessar novos mercados, engajar talentos e consumidores — e crescer com mais resiliência e legitimidade.