O que é o Global Stocktake e como ele fortalece o Acordo de Paris?

Se você acompanha as discussões sobre mudanças climáticas, já deve ter ouvido falar do Acordo de Paris – aquele tratado global onde praticamente todos os países se comprometeram a combater as mudanças climáticas. Mas você sabia que existe um “checape climático” para verificar se o mundo está realmente indo de acordo com suas metas? É aí que entra o Global Stocktake (GST).

Neste artigo, vamos explorar o que é o Global Stocktake, como ele funciona e por que é uma peça fundamental para garantir que o Acordo de Paris não seja apenas uma promessa no papel, mas também um pilar que impulsiona mercados globais, incluindo o mercado de carbono.

O que é o Global Stocktake?

 

O Global Stocktake é um processo criado pelo Acordo de Paris para medir o progresso coletivo do mundo na luta contra as mudanças climáticas. Pense nele como uma avaliação periódica – uma espécie de “prestação de contas climática” – que acontece a cada cinco anos para verificar se estamos no caminho certo para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ou, no máximo, 2°C acima dos níveis pré-industriais.

A ideia principal do GST é simples: reunir todos os esforços globais, analisá-los e ver onde estamos avançando – ou falhando – em três áreas fundamentais:

  • Mitigação: Como estamos reduzindo emissões de gases de efeito estufa, o que impacta diretamente o funcionamento do mercado de carbono.
  • Adaptação: O que estamos fazendo para nos preparar para os impactos inevitáveis das mudanças climáticas.
  • Financiamento: O quanto estamos investindo em ações climáticas, especialmente nos países em desenvolvimento.

Como funciona na prática?

 

O funcionamento do Global Stocktake é baseado em uma estrutura que garante que todos os países do Acordo de Paris contribuam com informações e sejam avaliados de forma transparente. O processo ocorre em um ciclo de cinco anos e segue uma metodologia padronizada, que se desenrola em três etapas principais:

  1. Submissão de Dados pelos Países

Tudo começa com os países apresentando suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – os compromissos que definem metas de redução de emissões, adaptação e financiamento climático. Além disso, eles enviam relatórios periódicos chamados Relatórios Bienais de Transparência, que detalham:

  • Emissões de gases de efeito estufa (GEE);
  • Ações climáticas implementadas;
  • Progresso em relação às metas das NDCs;
  • Dados sobre financiamento, transferência de tecnologia e suporte oferecido ou recebido.

Essas submissões são avaliadas com base em diretrizes técnicas acordadas, garantindo que todos usem métricas comparáveis e sigam um padrão global.

  1. Avaliação e Análise Técnica

Uma vez que os relatórios são recebidos, eles passam por uma análise técnica conduzida por painéis de especialistas indicados pela UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Essa etapa foca em identificar:

  • Se as emissões globais estão alinhadas com os limites de 1,5°C ou 2°C;
  • Quais são as lacunas em termos de mitigação, adaptação e financiamento;
  • Exemplos de boas práticas que podem ser replicadas.

Essa análise é apresentada em relatórios técnicos e, em seguida, discutida em fóruns abertos durante as Conferências das Partes (COPs).

  1. Discussões Políticas e Revisão das NDCs

Com base nos resultados técnicos, os países se reúnem nas COPs para discutir os achados do Global Stocktake. Esse é o momento em que os líderes mundiais enfrentam a realidade dos números e debatem como intensificar suas ações climáticas.

Ao final do ciclo, o GST fornece uma base para que os países atualizem suas NDCs, tornando-as mais ambiciosas. A expectativa é que cada ciclo leve a um aumento gradual e consistente no esforço global, garantindo que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas.

Por que o Global Stocktake é importante?

 

O Acordo de Paris estabeleceu metas ambiciosas, mas não adianta ter metas se ninguém verifica se estão sendo cumpridas. O Global Stocktake é crucial porque:

  • Promove transparência: Países precisam mostrar o que estão fazendo (ou deixando de fazer).
  • Incentiva a ação climática: Saber que seus esforços serão avaliados publicamente motiva os países a intensificarem suas ações.
  • Identifica lacunas: Onde estamos falhando? Quais setores ou regiões precisam de mais atenção?

Mais do que isso, o GST reforça o caráter dinâmico do Acordo de Paris. Ele não é um tratado estático; é uma estrutura viva que se adapta com o tempo, incorporando novos dados e desafios, afetando inclusive o mercado de carbono global.

Como o Global Stocktake afeta empresas e indivíduos?

 

Embora o GST pareça algo distante para muitas pessoas, seus efeitos reverberam em empresas, governos e indivíduos. As conclusões do processo podem levar a regulamentações mais rigorosas, incentivos para tecnologias verdes e mudanças nas demandas do mercado.

Empresas que estão na vanguarda da sustentabilidade, por exemplo, podem usar os insights do GST para ajustar suas estratégias de ESG, fortalecer sua competitividade e participar ativamente do mercado de carbono. Já os cidadãos podem usar as informações do Stocktake para cobrar ações mais eficazes de seus líderes e organizações.

Conclusão

 

O Global Stocktake é muito mais do que um relatório técnico; ele é a espinha dorsal que sustenta o Acordo de Paris. É através desse mecanismo que o mundo pode monitorar, ajustar e intensificar seus esforços para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

Se o Acordo de Paris é o nosso compromisso coletivo, o Global Stocktake é a ferramenta que garante que estamos fazendo a nossa parte. E, no final das contas, ele é um lembrete de que a luta contra as mudanças climáticas exige ação contínua e colaboração global.

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