Saiba mais sobre a qualidade dos créditos de carbono

Autora: Ariadne Pacheco

É incontestável a realidade das mudanças climáticas e sua crescente contribuição para eventos adversos, como por exemplo, aumento do número de enchentes e períodos prolongados de seca. 
 
 Os recentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) – que estabelece uma ligação entre a pesquisa e os governantes mundiais quanto às mudanças climáticas antropogênicas – não apenas reforçam essa compreensão, mas também trazem consigo uma relevância científica  para validar essas afirmações. 
 
Afirmações tais, como as apresentadas no sexto relatório de análise do IPCC, onde afirmou-se que “é inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a terra”. 
 

 

Como surgiram os padrões de qualidade? 

 
Analisando o panorama atual, em que a temperatura média do planeta tem aumentado de forma exponencial,  e levando em consideração a crescente preocupação dos líderes globais a respeito das mudanças climáticas, ao longo dos anos foram criadas uma série de tratados internacionais, advindos sobretudo da Conferências das Partes (COP). 
 
Com o advento desses tratados e o lançamento de iniciativas para diminuição das emissões de gases de efeito estufa, foram estabelecidos critérios de validação e verificação de projetos de redução de emissões. Entre os padrões de qualidade mais influentes, destacam-se o Verified Carbon Standard (VCS), o Climate Action Reserve (CAR), o American Carbon Registry (ACR) e o Gold Standard [1]. 
 
No entanto, a experiência com os atuais sistemas do mercado do carbono, sobretudo no mercado voluntário, destaca que garantir a qualidade das unidades de carbono pode ser um desafio. O que ressalta a importância de estar atento à manutenção da qualidade e integridade dos créditos comercializados[1].
 
 

Como o mercado tem enfrentado essa problemática?

 
O desafio de manter a confiabilidade e integridade dos créditos de carbono, fez o mercado ficar mais atento a essa problemática. Uma das alternativas que surgiram diante desse cenário, foi a criação do Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (Conselho de Integridade para Mercado Voluntário de Carbono – ICVCM). 
 
O ICVCM é um órgão de governança independente para o mercado voluntário de carbono, que busca estabelecer e aplicar um padrão definitivo de limite global para identificar créditos de carbono de alta qualidade.  
 
Além disso, uma das mais importantes certificadoras de projetos de carbono, a Verra, em conjunto com a McKinsey Brasil, anunciaram no dia 03 de junho de 2023, uma parceria para  contribuir com o mercado global de créditos de carbono de alta integridade.
 
A medida tem como propósito determinar as principais necessidades do mercado voluntário de carbono nacional e as potenciais formas de melhoria, visando fortalecer a confiança e a transparência desse mercado no Brasil. 
 
Esses são apenas alguns exemplos de ações que estão começando a surgir no mercado com o intuito de garantir a qualidade dos créditos transacionados. O que indica a clara preocupação desse setor em enfrentar de forma eficaz o problema da falta de confiança.
 
 
 

Quais são os próximos passos?

 
A confiança no mercado de carbono depende diretamente da certeza de que os créditos emitidos representem reduções reais e mensuráveis nas emissões. Sem essa confiança, os investidores podem hesitar em participar, os preços podem ser afetados e o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ser comprometido.
 
Portanto, a implementação de rigorosos padrões de validação, verificação e monitoramento são essenciais para garantir a qualidade dos créditos de carbono. Além disso, a transparência e a prestação de contas são fundamentais para sustentar a confiança dos participantes no mercado, incentivando assim o cumprimento das metas estabelecidas.
 
Porém, atenção!!! Apesar desse obstáculo existir e gerar consequências reais ao mercado e ao cumprimento das metas climáticas, compreende-se que as compensações ao longo prazo deverão ser destinadas sobretudo às emissões residuais, aquelas que são muito difíceis de eliminar.  Reconhecendo-se assim,  que  os mecanismos de mercado não devem ser considerados a única abordagem eficaz na batalha contra as mudanças climáticas.
 
 
 
[1] SPILKER, G; NUGENT, N. Voluntary carbon market derivatives: Growth, innovation & usage. Borsa Istanbul Review, v. 22, p.109-118, dez. 2022. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214845022001053 >. Acesso em: 18 jun. 2023. 
 

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