Diversas cidades do interior do estado de São Paulo ficaram tomadas por uma nuvem de poeira de dimensão impressionante, neste último domingo, dia 26 de setembro. A tempestade de areia transformou o dia em noite, cobrindo municípios como Franca, Presidente Prudente, Jales, Araçatuba, Barretos e outras, chegando até em cidades do Triângulo Mineiro.
As estações do Instituto Nacional de Meteorologia registraram rajadas, em média, de 50 km/h a 60 km/h no interior de São Paulo, chegando a aproximadamente 90 km/h no Aeroporto de Ribeirão Preto.
A meteorologista Dória Palma explicou que esse fenômeno da natureza acontece em regiões áridas e semiáridas espalhadas pelo mundo, denominado mundialmente de haboob. Porém, é um fenômeno bem incomum no Brasil.
Como se forma um haboob?
Um haboob é um tipo de tempestade de poeira que começa a se formar a partir de uma tempestade comum de chuva e vento.
Com as nuvens carregadas e ventos fortes, o ar frio desce para o solo e se espalha radialmente. Quando isso acontece em uma região com o solo muito seco, o vento levanta muita poeira, gerando nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus. Esse tipo de nuvem é formado pela ação de ventos convectivos ascendentes e quase sempre estão associadas a eventos meteorológicos extremos.
Abaixo de sua base, ocorre uma grande escuridão por conta do bloqueio da luz solar pela espessura da nuvem de partículas. Os haboobs possuem dimensões enormes, podendo ter centenas de quilômetros de altura e largura.
Seca e desmatamento
A região de Ribeirão Preto estava em extrema condição de seca, a mais de cem dias consecutivos sem chuva significativa. Segundo a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Andrea Ramos, os dias secos e quentes favoreceram a ocorrência da tempestade de areia.
Por conta do solo da região estar muito seco, o retorno da chuva no final de semana resultou num grande choque de massas de ar quente e seco. Isso intensificou bastante as rajadas de vento pela região, que fizeram com que a poeira se levantasse, causando a tempestade.
Os eventos extremos de seca no Brasil estão ficando cada vez mais intensos devido ao desmatamento das florestas. A falta de chuva nas regiões do Centro Oeste, Sul e Sudeste está diretamente relacionada ao desmatamento da Amazônia, pois a umidade da floresta amazônica é transportada, até essas regiões, pelos conhecidos rios voadores. Segundo o Instituto Água Sustentável, até 70% da chuva em São Paulo depende do vapor d’água amazônico.
Um problema que pode se tornar mais frequente
A seca do interior de São Paulo, junto com as rajadas de ventos intensos resultaram na formação de uma tempestade de areia.
Como consequência do aquecimento global estamos vendo esses fenômenos naturais acontecendo cada vez mais frequentes e mais intensos. Se o desmatamento e a emissão de gases do efeito estufa (GGE) seguirem aumentando, a tendência é que o planeta fique mais quente e seco.
A ocorrência de fenômenos como a tempestade de areia no interior de São Paulo demonstra a necessidade de agirmos rápido para amenizar os impactos causados ao meio ambiente.
Para evitar novas catástrofes derivadas das secas, é preciso reduzir o desmatamento – e acabar com o desmatamento ilegal – reduzir nossas emissões de GEE e restaurar florestas com plantio de árvores nativas.